Em Abril de 2021, cheias catastróficas devastaram Timor-Leste, ceifando mais de 30 vidas e destruindo mais de 4.000 casas. Entre as áreas mais atingidas estava Orlalan, uma remota aldeia montanhosa com quase 6.000 residentes. Os moradores mal sabiam como se proteger de inundações e deslizamentos de terra.
Em Orlalan, líderes comunitários como Armandina Valentina, cuja família foi afectada pelas cheias de 2021, assumiram a responsabilidade de educar os seus vizinhos. Valentina é incansável em seus esforços, batendo de porta em porta para garantir que cada morador saiba aonde ir em caso de desastre. Ela sublinha que deve ser dada especial atenção aos mais vulneráveis – grávidas, crianças e idosos – para evitar o pânico.
As suas actividades fazem parte de uma iniciativa nacional apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA) que visa proteger a vida do povo timorense.
RPG de desastre
Outro componente do programa são as simulações de desastres. A UN News participou recentemente num destes exercícios em Orlalan, onde as crianças desempenham um papel crucial. Durante o exercício, eles praticam permanecer em áreas visíveis, protegendo a cabeça e pedindo ajuda caso fiquem presos. Algumas crianças simulam ferimentos e recebem primeiros socorros, enquanto outras acompanham equipes de resgate até locais seguros.
Para a jovem voluntária Fretiliana Alves, estas simulações não são apenas uma forma de formação – são uma vocação. “Minha principal motivação é salvar vidas”, explica ela. Alves incentiva seus colegas a se unirem e a se realizarem no esforço de resgatar e cuidar dos necessitados.
O sucesso destes esforços depende fortemente de voluntários locais que compreendem os riscos e o terreno das suas comunidades. Como observa Emidia Belo, coordenadora de preparação para catástrofes da Cruz Vermelha de Timor-Leste (CVTL), estes voluntários são muitas vezes os primeiros a responder numa catástrofe. O seu conhecimento preciso das condições locais é essencial, especialmente quando o acesso às áreas afetadas está bloqueado.
Salve os mais fracos
O que diferencia o programa de preparação do PNUA é a sua inclusão. A formação é adaptada para garantir que as pessoas com deficiência, as crianças, os idosos e as mulheres grávidas estejam adequadamente equipadas para enfrentar os desafios de uma catástrofe. Antonio Ornai, que é deficiente visual, participou pela primeira vez de uma simulação de deslizamento de terra em setembro de 2024. “Estou grato por estar lá”, diz ele. “Usarei tudo o que aprendi para me proteger no futuro.”
Esta abordagem é crucial, afirma Emidia Belo. “Os desastres afetam a todos, mas atingem mais duramente os mais vulneráveis”, acrescenta ela. “Mudar as atitudes da comunidade para estar preparada é um processo de longo prazo. Isto não acontecerá em apenas um ou dois anos.” Com os cinco anos de apoio do PNUA, Timor-Leste está a fazer progressos significativos, mas ainda há muito a fazer.
Faça o alarme soar alto e claro
Em Orlalan, o processo de evacuação em caso de desastre segue um plano cuidadoso de cinco etapas. Em primeiro lugar, as autoridades nacionais avisam antecipadamente sobre o perigo iminente. Os líderes comunitários reúnem-se então para avaliar as rotas de fuga e encontrar alojamento seguro. Esta informação é transmitida através de sistemas de som alimentados por energia solar, chegando até às aldeias mais remotas, enquanto os voluntários utilizam megafones para garantir que todos estão informados.
No início da evacuação, equipas de defesa civil e socorristas treinados em primeiros socorros serão destacados para ajudar os necessitados. Será dada prioridade aos mais vulneráveis e, assim que todos tenham sido realocados com segurança, o governo distribuirá suprimentos vitais aos abrigos.
Mas o processo não é isento de desafios. “O mais difícil é garantir comida suficiente durante uma evacuação”, diz Adriano Soares, chefe de Torilalan, uma pequena aldeia. “As inundações estão a danificar as colheitas, a esgotar os nossos recursos e a dificultar a sobrevivência.”
Tecnologia inovadora que salva vidas
Num discurso poderoso durante a COP29, a conferência climática da ONU em Baku, no Azerbaijão, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apontou uma terrível realidade: que os países menos desenvolvidos e os estados insulares do mundo têm menos de 10 por cento dos dados que uma conferência climática eficaz requer sistemas de alerta. A mensagem era clara: sem os dados corretos, vidas estão em risco.
Existem agora esforços em Timor-Leste para colmatar esta lacuna.
Como parte da iniciativa do PNUA, serão instaladas nove estações meteorológicas automáticas, dois sistemas automatizados de observação meteorológica, três dispositivos de radar e uma bóia marítima em todo o país.
Segundo Terêncio Fernandes, diretor do Departamento Nacional de Meteorologia e Geofísica, estas tecnologias ajudarão o país a passar de um nível básico de observação climática para um nível mais avançado, com potencial para atingir o nível cinco – uma referência para uma observação abrangente e real. dados climáticos de tempo.
As novas estações AWS, que são económicas e podem transmitir dados sem Internet, são cruciais para aldeias remotas como Orlalan. Estas estações coletam dados importantes sobre precipitação, velocidade do vento, temperatura e outros fatores meteorológicos e os transmitem a cada minuto para um sistema central para análise.
Um legado de ação global
O sistema que está a ser construído em Timor-Leste não é apenas uma conquista nacional; É uma prova do poder da colaboração global. Grande parte deste progresso é o resultado de decisões tomadas na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, COP16, de 2010, onde o Fundo Verde para o Clima foi criado para ajudar países como Timor-Leste a adaptarem-se à crise climática.
À medida que as negociações climáticas prosseguem na COP29 e mais além, as lições aprendidas em Timor-Leste poderão servir de modelo para outras nações que enfrentam ameaças semelhantes.
Atualmente, as pessoas em Orlalan e noutras comunidades em todo o país estão a aprender a conviver com a realidade de um clima em mudança, mas também estão a preparar-se para isso – juntos. Com tecnologia, conhecimento e espírito comunitário, provam que a resiliência está ao nosso alcance, mesmo face a desastres.