Tornou-se agora mais difícil para a autoridade eleitoral da Venezuela fornecer provas da sua decisão de declarar o presidente Nicolás Maduro vencedor das eleições presidenciais, depois de os EUA terem reconhecido o candidato da oposição Edmundo González como vencedor na quinta-feira, desacreditando o resultado oficial do tão aguardado votar.
O anúncio do Departamento de Estado dos EUA seguiu-se a apelos de vários governos, incluindo aliados próximos de Maduro, para que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela divulgasse contagens detalhadas de votos, como fez em eleições anteriores.
O órgão eleitoral declarou Maduro vencedor na segunda-feira, mas a principal coligação da oposição anunciou horas depois que tinha provas em contrário: mais de dois terços dos boletins de voto foram impressos por urnas eletrónicas após o encerramento das urnas.
“Diante de provas contundentes, está claro para os Estados Unidos e especialmente para o povo venezuelano que Edmundo González Urrutia obteve o maior número de votos nas eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, num comunicado.
Maduro respondeu com uma rápida advertência: “Os Estados Unidos devem manter o nariz fora da Venezuela!”
O anúncio ocorreu em meio a esforços diplomáticos para persuadir Maduro a divulgar os resultados eleitorais e a apelos crescentes para uma revisão independente dos resultados eleitorais, segundo autoridades brasileiras e mexicanas.
Pressão para mostrar planilhas de contagem de votos
Autoridades governamentais do Brasil, Colômbia e México estão em contato constante com o governo de Maduro para persuadi-lo a submeter as cédulas das eleições de domingo e permitir uma revisão imparcial, disse um funcionário do governo brasileiro à Associated Press na quinta-feira.
Autoridades disseram ao governo venezuelano que a divulgação dos dados era a única forma de dissipar quaisquer dúvidas sobre os resultados, disse a autoridade brasileira, que não estava autorizada a falar publicamente sobre o esforço diplomático e pediu anonimato.
Uma autoridade mexicana, que também falou sob condição de anonimato pelo mesmo motivo, confirmou que os três governos discutiram o assunto com a Venezuela, mas não deu detalhes.
Anteriormente, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse que queria falar com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e com o presidente colombiano, Gustavo Petro. O seu governo considera importante a publicação dos resultados eleitorais.
Mais tarde na quinta-feira, os governos do Brasil, Colômbia e México divulgaram uma declaração conjunta apelando às autoridades eleitorais venezuelanas para “avançarem rapidamente e” tornarem públicos os resultados eleitorais detalhados. No entanto, não confirmaram que houve esforços diplomáticos à porta fechada para persuadir o governo de Maduro a publicar os resultados eleitorais.
“O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado através de uma análise imparcial dos resultados”, afirma o comunicado.
Protestos seguidos de prisões
Depois que o Conselho Nacional Eleitoral declarou Maduro o vencedor na segunda-feira, milhares de apoiadores da oposição saíram às ruas. O governo disse ter prendido centenas de manifestantes, e o grupo de direitos humanos Foro Penal, com sede na Venezuela, disse que 11 estavam mortos. Dezenas de outras pessoas foram presas no dia seguinte, incluindo o ex-candidato da oposição Freddy Superlano.
A líder da oposição Maria Corina Machado – que foi impedida de concorrer como candidata presidencial – e González discursaram numa grande manifestação de seus apoiadores na capital Caracas na terça-feira, mas não foram vistos em público desde então. Mais tarde naquele mesmo dia, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodriguez, pediu a sua prisão, chamando-os de criminosos e fascistas.
Num artigo de opinião publicado quinta-feira no Wall Street Journal, Machado disse que estava escondida “por medo pela sua vida, pela sua liberdade e pela dos seus compatriotas”.
Ela reiterou que a oposição tem provas físicas de que Maduro perdeu as eleições e apelou à intervenção da comunidade internacional.
“Nós votamos na eliminação do Sr. Maduro”, escreveu ela. “Cabe agora à comunidade internacional decidir se irá tolerar um governo comprovadamente ilegítimo.”
Anos de repressão governamental levaram os líderes da oposição ao exílio. Após a publicação do editorial, a equipe de Machado disse à Associated Press que ela estava “em busca de abrigo”. Posteriormente, Machado postou um vídeo nas redes sociais instando seus seguidores a se reunirem em todo o país na manhã de sábado.
Não houve comentários da equipe de campanha de Gonzalez no editorial.