Um avanço inovador no tratamento da epilepsia grave foi alcançado com a implantação bem sucedida de um dispositivo cerebral num adolescente britânico, Oran Knowlson. Desenvolvido pela Amber Therapeutics, este neuroestimulador envia sinais elétricos profundamente no cérebro para controlar convulsões.
Knowlson, que sofre da síndrome de Lennox-Gastaut, uma forma de epilepsia resistente ao tratamento, teve 80% menos convulsões por dia desde que usou o dispositivo.
Como foi realizado o tratamento?
A operação, realizada no Great Ormond Street Hospital (GOSH), em Londres, como parte de um estudo em colaboração com a University College London, o King’s College Hospital e a Universidade de Oxford, viu dois eletrodos serem inseridos profundamente no cérebro de Knowlson até chegarem ao tálamo.
Os eletrodos foram conectados ao neuroestimulador, um aparelho de 3,5 cm² e 0,6 cm de espessura que foi colocado sob o crânio e ancorado com parafusos. Este dispositivo, carregado por meio de fones de ouvido, fornece estimulação elétrica suave e constante para bloquear as vias que desencadeiam as convulsões.
A cirurgia, que durou cerca de oito horas, foi um processo meticuloso. Os eletrodos tiveram que ser colocados com precisão inferior a um milímetro. A margem de erro na colocação dos eletrodos foi mínima, permitindo que o dispositivo interrompesse efetivamente a atividade elétrica anormal no cérebro de Knowlson que desencadeia as convulsões.
Esta abordagem à estimulação cerebral profunda (ECP) já foi tentada antes, mas a inovação reside na colocação do neuroestimulador diretamente no crânio e não no tórax. Isto reduz complicações potenciais, como infecções e falhas do dispositivo.
Como Knowlson e sua família reagiram?
A provação de Knowlson com a epilepsia começou aos três anos de idade. Sua mãe, Justine, descreveu como a epilepsia dominou sua vida e roubou sua infância.
Antes da cirurgia, Knowlson tinha convulsões diárias, às vezes centenas por dia. Muitas vezes ele perdia a consciência e precisava ser ressuscitado. Ele precisava de cuidados 24 horas por dia e apresentava risco significativamente aumentado de morte súbita e inesperada por epilepsia (SUDEP).
O neuroestimulador teve um impacto profundo na vida de Knowlson. “O futuro parece promissor, algo que eu não poderia ter imaginado há seis meses”, disse Justine. Desde a cirurgia, Knowlson está mais feliz, mais engajado e recuperou uma melhor qualidade de vida.
“Ele é muito mais falante, está mais engajado. Ele fez 13 anos e eu definitivamente sou adolescente agora – ele gosta de me dizer não. Mas melhora sua qualidade de vida se ele conseguir se expressar melhor.”
O neurocirurgião Martin Tisdall, que liderou a equipe cirúrgica, ficou satisfeito com o resultado. “Para Knowlson e sua família, a epilepsia mudou completamente suas vidas e é absolutamente incrível vê-lo andando a cavalo e recuperando sua independência. Não poderíamos estar mais felizes por fazer parte de sua jornada.”
Qual é o significado desta conquista?
Tisdall enfatizou a importância deste avanço: “A estimulação cerebral profunda nos aproxima mais do que nunca de parar as crises epilépticas em pacientes que têm opções de tratamento eficazes muito limitadas. Temos o prazer de construir a base de evidências para a eficácia da estimulação cerebral profunda no tratamento da epilepsia em crianças e esperamos que se torne um tratamento padrão que possamos oferecer nos próximos anos.”
O estudo, conhecido como CADET (Children’s Adaptive Deep Brain Stimulation for Epilepsy Trial), está agora recrutando mais três pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut, elevando o total para 22 participantes. A próxima fase do estudo ajustará o neuroestimulador para responder às mudanças em tempo real na atividade cerebral para prevenir convulsões quando elas estiverem prestes a ocorrer.
O sucesso deste ensaio deu esperança à família de Knowlson e a muitas outras pessoas afetadas pela epilepsia grave. Justine expressou seu entusiasmo pelo futuro: “A equipe da Great Ormond Street nos devolveu a esperança… agora o futuro parece mais brilhante. Embora a família de Knowlson esteja ciente de que o tratamento não é uma cura, eles estão otimistas de que ele continuará.” sair da sombra lançada por sua epilepsia.
Este dispositivo não só representa um avanço significativo no tratamento da epilepsia, mas também é uma promessa para o tratamento de outras doenças neurológicas. O neuroestimulador Picostim já foi usado para tratar pacientes com doença de Parkinson, e neuroestimuladores semelhantes montados no crânio foram testados nos Estados Unidos para tratar a epilepsia.
Com contribuições de agências