NAÇÕES UNIDAS, 20 de setembro (IPS) – Este ano foi o pior para a floresta amazônica em quase duas décadas. Embora o desmatamento tenha diminuído significativamente em comparação com 2023, os incêndios florestais devastaram hectares de ecossistemas importantes. Nos primeiros oito meses deste ano, ocorreram regularmente incêndios florestais na região amazônica, com um total de mais de 53 mil casos registrados.
Os incêndios florestais destruíram mais de 5,4 milhões de hectares da Amazônia até agora este ano, aproximadamente o tamanho da Costa Rica ou da Dinamarca, de acordo com a Rainforest Foundation dos EUA. Além disso, de acordo com o Amazon Watch, os incêndios florestais na Amazônia nos últimos anos limitaram-se apenas às regiões brasileira e boliviana. Em 2024, estes incêndios espalharam-se pelas regiões peruanas, algo que nunca tinha acontecido antes.
Os recentes incêndios são em parte resultado da seca do El Niño, que levou à redução das chuvas anuais na Amazônia. São também uma consequência das alterações climáticas e da exploração humana e sugerem que o planeta estará em risco se não forem controlados.
“Os efeitos combinados das mudanças climáticas, da degradação florestal e do aumento dos incêndios florestais podem fazer com que 60% da floresta amazônica desapareça até 2050”, afirmou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A Amazônia é vital para a saúde de todo o planeta por vários motivos. Por um lado, é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo, perdendo apenas para os oceanos da Terra. Segundo o Greenpeace Internacional, a Amazônia absorve cerca de 90 a 140 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa da atmosfera. Sem ele, o efeito estufa aumentaria significativamente.
Dr. Elena Shevliakova, pesquisadora da Universidade de Princeton, estima que o Brasil e oito de seus países vizinhos se tornariam “virtualmente inabitáveis” se a Amazônia queimasse completamente. Shevliakova acrescenta que a precipitação na Terra diminuiria 25% e a temperatura global aumentaria 4,5 graus.
As queimadas já estão causando impactos negativos nas regiões limítrofes da Amazônia. A qualidade do ar em Manaus, capital do estado brasileiro do Amazonas, atingiu níveis prejudiciais à saúde, segundo dados do IQAir. Natalia Gil, especialista em ciências atmosféricas e membro do departamento de qualidade do ar e emissões do Laboratório de Tecnologia do Uruguai, também observou um aumento na poluição por material particulado no ar dos países vizinhos.
Além disso, a Amazônia é um dos ecossistemas com maior biodiversidade do planeta e abriga mais de dez por cento de todas as espécies de plantas e animais da Terra. A perda destas espécies teria um impacto devastador nos ecossistemas mundiais, uma vez que as cadeias alimentares seriam gravemente perturbadas, levando a uma escassez generalizada de alimentos. Além disso, espécies de plantas com usos medicinais significativos seriam extintas, colocando toda a humanidade em perigo. O Instituto Nacional do Câncer dos EUA estima que 70% de todas as plantas usadas em medicamentos contra o câncer vêm da Amazônia.
A subsistência de diversas comunidades indígenas depende da saúde ecológica da floresta amazônica. Segundo o World Wildlife Fund (WWF), cerca de 40 milhões de pessoas vivem nesta floresta, incluindo 2,2 milhões de povos indígenas. A Associação de Conservação da Amazônia explica: “Mais de 400 tribos, cada uma com sua própria cultura, língua e território, continuam a viver vidas predominantemente tradicionais e dependem dessas florestas para sua sobrevivência… Os habitantes locais são responsáveis por suas necessidades diárias, como alimentação, água, fibras e medicina tradicional dependem das florestas da Amazônia.”
Para o bem-estar geral do ambiente e da humanidade, é essencial que sejam feitos esforços para mitigar os efeitos das práticas humanas. O PNUMA está atualmente lançando iniciativas focadas em práticas sustentáveis, na conservação da biodiversidade e no apoio às comunidades indígenas.
Relatório do Escritório IPS-ONU
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